Para quem não sabe, fiquei responsável por falar sobre a parte de livros. Sou, assumidamente, uma fã assídua de livros. Seja de qualquer gênero. Biografias, livros científicos, românticos, engraçados, autoajuda, terror ou qualquer mistério. Eu gosto mesmo é de pegar naquele livro com cheirinho de novo. Cá entre nós, há coisa melhor do que isso?
Então, resolvi vir aqui fazer uma resenha sobre a minha coleção de livros de Chico Buarque. Sou muito fã do artista, compositor, escritor e músico Chico.

Primeiramente, falaremos de "Estorvo":
A crítica define o livro Estorvo como uma “alegoria do vazio”, ou seja, uma representação simbólica da total falta de perspectiva do homem contemporâneo, inserido numa sociedade hipócrita, cujos valores se encontram em decadência. Estorvo se mantém constantemente no limite entre o sonho e a vigília. Desprovido de qualquer liame com os valores da sociedade, o protagonista mostra-se desajustado às regras sociais: não se adequa a nenhum emprego, aceita ser sustentado pela mulher, depois pela irmã, não é capaz de administrar os bens da família após a morte do pai. Não valoriza nenhum bem material: perde a mala com suas roupas, tem seu dinheiro roubado, seu sítio invadido, as jóias roubadas são pagas com uma droga da qual ele só pensa em se livrar  e, entretanto, ele não reage. A história aponta para um mundo impedido, que não consegue superar o passado, onde não há esboço de resistência do sujeito. Segundo o crítico Benedito Nunes, “Seu futuro é a expectativa do pior” (Revista Cult no. 69).
A estrutura não-linear traz uma narrativa psicológica e o fluxo se dá não apenas em cima dos fatos, mas sobre e abaixo deles, ou seja, o narrador não conta apenas o que vive ou viveu, confabula, imagina e relata essas confabulações. Na fuga (de si mesmo?), o protagonista está sempre voltando aos mesmos lugares.

Em segundo, "Benjamim":
Girando em torno da obsessão pela morte de uma mulher, um enigma na vida do protagonista, Benjamim, o segundo romance de Chico Buarque, narra a história de um ex-modelo fotográfico que, como uma câmara invisível, vê o mundo desfilar diante de seus olhos sob uma atmosfera opressiva. Sem conseguir distinguir o que vê fora de si do seu passado, e de si mesmo, Benjamim avança, pouco a pouco, em direção ao destino  trágico que sua obsessão lhe reserva. O clima opressivo é resultado do próprio estilo de narrar. O autor retoma e amplifica o universo imaginário de seu romance anterior para criar um dos livros mais originais recentemente escritos no Brasil. Apesar de ser um livro de difícil compreensão, o mesmo apresenta uma história repleta de muita emoção.

Em terceiro, "Budapeste":
O romance começa, aparentemente, seguindo os caracteres estruturais da narrativa; temos um narrador em primeira pessoa. Neste momento é como se pegássemos um trem sem saber o seu destino, afinal o próprio protagonista foi parar em Budapeste por acaso, "Fui dar em Budapeste graças a um pouso imprevisto, quando voava de Istambul a Frankfurt, com conexão para o Rio.". A sensação de estarmos num trem nos acompanhará por um longo e tortuoso caminho, o texto terá paradas bruscas, desvios, mudanças rápidas de paisagem e de personagens, idas e vindas, encontros e despedidas. A história de José Costa mistura-se com as outras, criadas por ele, de tal forma que a todo momento você sente o pulsar dele em tudo o que está sendo narrado, principalmente no trecho em que ele narra a história do alemão.
Enfim, a história de José Costa cruza-se com a do alemão e com a dos outros personagens criados por ele numa aparente confusão. Chico Buarque, com seu romance, consegue mostrar os prazeres e as dores do ato de criação de um texto literário?
Talvez possamos ensaiar uma conclusão e dizer que Budapeste seja um tratado sobre o amor. O amor em suas três fases: atração, acomodação e maturidade, ou a mulher amada seria a língua materna passando por vários processos de criação.
Mesmo havendo muito ainda a ser dito uma coisa já podemos adiantar sobre Budapeste: Machado de Assis não é o único narrador singular.


E, por último, "Leite Derramado":
Com uma riqueza de situações costuradas em uma narrativa bem elaborada, o autor nos envolve num clima de nostalgia que possibilita a identificação direta com o
personagem principal: Eulálio Montenegro D´Assumpção, um centenário
senhor carioca de família aristocrática decadente, que em seu leito de morte
no hospital, relembra fatos de sua vida que são narrados como um caleidoscópio
descontrolado, pela memória já envelhecida e que vão aproximando
página a página o leitor desta encantadora figura.
É interessante o desenvolvimento da narrativa exclusivamente baseada
nas lembranças de Eulálio, que confirma a força da memória para o registro
da própria história e constituição da identidadeMuitos são os aspectos literários a serem considerados sobre este livro de Chico Buarque com características machadianas. A trama mostra um quebra-cabeça histórico muito criativo. Como o personagem de Eulálio viveu cem anos, relembrados em passagens ora cômicas, ora trágicas, estes episódios se misturam com momentos importantes de nossa história nacional. Há referências a chamada belle épóque, o crack da bolsa de Nova York, à Segunda Guerra, ao período da ditadura militar e até a vinda da família real portuguesa que trouxe junto na comitiva o seu trisavô.
Por fim, outro aspecto que gostaria de destacar do livro é o seu próprio título. Imediatamente me associa ao conto infantil da “Menina do pote de leite” que descreve a história de uma jovem que pensando em seu futuro, sai em disparada para a cidade para vender o leite de sua vaca. No caminho, foi fazendo planos de comprar ração para a vaca produzir cada vez mais, assim poderia vender mais leite, que traria lucro para investir na compra de galinhas que certamente produziriam ovos, o que traria mais lucro para quem sabe comprar outros animais como bodes, ovelhas, porcos e a cada passo, cresciam os planos. Porém, imaginando seu futuro já como certo, distraidamente...
e o leitor já sabe o que acontece em seguida: tropeçou numa pedra na estrada e derramou todo o leite e lá se foram todos os sonhos, junto como leite derramado. O que a mensagem deste conto pode nos dizer? O que Chico Buarque quis nos fazer refletir? Fica aqui uma oportunidade para descobrirmos.


Concluindo, podemos ver  que as histórias retratadas, nos livros de Chico Buarque, exigem atenção à leitura e gosto pela literatura clássica. E não foi coicidentemente que minha resenha sobre "Leite Derramado" foi bem maior do que as outras, pois, dos quatro livros, posso considerá-lo como o meu predileto.

Espero que tenham gostado,
Andreza A.